A câmera Sputnik surgiu em um momento de efervescência criativa na União Soviética e logo se destacou como uma das produções mais curiosas do universo fotográfico. Fabricada pela LOMO entre meados da década de 1950 e 1973, ela foi concebida como uma câmera estereoscópica de meio formato que permitia capturar, simultaneamente, duas imagens com um ligeiro deslocamento – exatamente o que era necessário para reproduzir o efeito tridimensional, tão apreciado na época.

Inspirada nos modelos TLR já consagrados, como o Lubitel, a Sputnik recebeu um redesign que a dotou de uma identidade única. Seu corpo, feito de Bakelite, conferia-lhe um visual retrô e robusto, embora com a peculiaridade de que o material, com o passar do tempo, podia se tornar um pouco frágil. Essa escolha de material era típica da engenharia soviética, que unia funcionalidade e uma estética quase industrial, contribuindo para o charme inconfundível da câmera.

No coração de seu funcionamento estão os dois conjuntos de lentes fixas – lentes Triplet T-22 com abertura 4.5 e distância focal de 75 mm – que capturam as imagens de ângulos ligeiramente diferentes. Entre elas, uma terceira lente, com abertura de aproximadamente 2.8, serve para o foco, garantindo que ambos os cliques fiquem alinhados para criar uma perspectiva que se assemelha à visão humana. Essa configuração permitia que, utilizando película de 120, cada rolo renderizasse seis pares de imagens em formato 6×6, proporcionando uma verdadeira imersão em fotografia 3D quando vistas através de um estereoscópio.

A Sputnik não foi apenas uma máquina para capturar imagens; ela simbolizava a vontade de explorar novas dimensões visuais. Seu design, embora simples e despretensioso à primeira vista, trazia consigo um senso de experimentação que incentivava fotógrafos – tanto amadores quanto profissionais – a desafiar os limites da fotografia convencional. É comum encontrar relatos de entusiastas que, mesmo enfrentando pequenas dificuldades como ajustes de foco ou eventuais problemas de vedação que podiam causar vazamentos de luz, se encantavam com o processo de tirar uma foto que, depois de vista com um estereoscópio, revelava uma surpreendente sensação de profundidade e realismo.

Durante seus quase 20 anos de produção, a Sputnik passou por algumas variações, mas sempre manteve sua essência: tornar a experiência 3D acessível e divertida. Em um tempo em que a fotografia em cores e a imagem plana dominavam o mercado, a Sputnik oferecia uma alternativa única, convidando seus usuários a explorar o mundo de uma maneira que se aproximava da experiência natural da visão humana.

Hoje, a Sputnik é muito mais que uma câmera – é um ícone cultural e um símbolo da inventividade soviética. Colecionadores e amantes da fotografia analógica a celebram não apenas por seu design peculiar e funcionalidade estereoscópica, mas também como um testemunho da capacidade de transformar limitações tecnológicas em oportunidades criativas. Ela continua a inspirar novos olhares e a reavivar o interesse por técnicas fotográficas clássicas, mostrando que, mesmo em meio à revolução digital, há beleza e autenticidade nas invenções do passado.